segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Meu filho tem restrição alimentar. O que fazer?

O diagnóstico gera um impacto para toda a família que, além de aprender a lidar com a doença, precisa reestruturar os hábitos de alimentação de forma eficiente e sem traumas

Há 4 meses, a família Santos Tavares foi surpreendida com uma notícia daquelas que ninguém gosta de receber: a caçula Valentina (foto acima), de 3 anos, tinha Diabetes tipo 1. Após exames, internação e o “susto”, a pequena recebeu alta hospitalar e voltou à sua rotina. Porém, a partir daquele momento, seu cardápio passaria a ser bastante controlado.
Segundo a mãe, Renata Regina, 38 anos, foi preciso estreitar as regras na alimentação e aumentar o controle com os horários por conta da medicação. “Em casa, nunca adotamos uma dieta desregrada, mas abríamos exceção no final de semana. Tivemos que abrir mão dessas ‘escapadinhas’ e passar a investir em produtos integrais, light, diet e sem açúcar para toda a família”, conta.
Ela tem outra filha, Maria Eduarda, de 6 anos, e percebeu que a melhor forma de lidar com a nova situação era investir em um cardápio padrão. Para Renata, o diálogo foi o melhor instrumento para ajustar os novos hábitos. “Explicamos para as duas que teríamos que trocar algumas coisas e cortar outras e que poderia ser muito ruim se as normas fossem quebradas”, diz.
Na escola e nas reuniões sociais, também é preciso deixar todo mundo bem informado para evitar riscos. “E carregar o lanchinho dela sempre, incluindo, guloseimas sem açúcar. Não quero que ela passe vontades!”, afirma a mãe.
Isso não é frescura!
De acordo com Sandra Maria Lima e Castro, 38 anos, mãe de Laura, de 3 anos, que tem alergia à proteína do leite, o grande desafio é conscientizar as pessoas sobre o problema. “Em casa, dá para controlar bem, mas até mesmo a família, inicialmente, julgava que eu estava exagerando”, relembra.
Sua filha, desde os 4 meses, começou a enfrentar problemas por conta dessa alergia que demorou a ser diagnosticada. “Ela vivia doente e eu não sabia o porquê”, comenta.
Quando identificou, passou a supervisionar a alimentação da pequena, que não pode ingerir nada derivado da proteína do leite. “Muitas vezes, ouvi comentários assim: ‘É só um pedacinho’. Mas, no caso dela, uma coisinha provoca um estrago grande”, pontua.
A caçula, hoje, antes de ingerir qualquer alimento, questiona: “Mãe, este eu posso?” e, sua irmã, Ester, de 6 anos, também está sempre de olho. “Ela explica para as pessoas que Laura não pode ter contato com o leite de vaca”, comenta a mãe, na foto acima com as duas garotinhas.
Sandra revela que ainda tem gente que torce o nariz para a situação e, por essa razão, o assunto precisa ser divulgado. “Os produtos são caros, de difícil acesso e ninguém quer estar nessa situação. Toda mãe prefere poder oferecer qualquer alimento, sem ter a preocupação do que aquilo poderá causar ao seu filho”, lembra. 
Como enfrentar a situação, sem estresse!  
Especialistas garantem que o diálogo é imprescindível neste momento. “A criança precisa ser orientada sobre a nova situação, porém, sem transformá-la em vítima”, diz Marina Vasconcellos, psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP).
Ela observa que o estresse, principalmente no início do processo, é quase inevitável, mas com calma e muita conversa é possível ir ajustando a nova rotina. Já Daniella Freixo de Faria, psicóloga infantil formada e especializada em psicologia analítica pela PUC-SP, sugere que os pais precisam lidar com a nova situação sem carregá-la de sofrimento.
“Eles são os responsáveis para transmitirem a mensagem à criança, por isso devem tomar cuidado para não dramatizar, ou seja, mostrar que a mudança vai trazer benefícios para a saúde e que isso é muito mais importante”, informa. 
Para facilitar, as especialistas listam algumas dicas importantes para aliviar este momento delicado, sem transformá-lo num período de traumas e proibições:
  • Converse com a criança de forma simples, sem dar detalhes da doença.
  • Busque livros que possam abordar o tema, o que vai ajudar a compreender a questão.
  • Use mensagens coerentes com a idade. Diga, por exemplo: “Se você comer isso sua barriguinha vai doer, por isso deve preferir outro tipo de comida”.
  • Evite deixá-la com medo, valorize o que ela pode fazer e transforme isso em algo prazeroso. Na prática, não fale do que não pode ser ingerido, mas tudo o que pode comer.
  • Deixe os adultos bem orientados sobre essa situação. Isso envolve a família, amigos próximos, escola e demais entidades frequentadas. Dessa forma, poderá diminuir os riscos para a criança.
  • Ensine seu filho a sempre perguntar para um adulto (a avó, o tio, a mãe do coleguinha, a professora) se pode ou não comer o alimento oferecido.
  • Invista em apetrechos diferenciados: um copo colorido para colocar o suco ou uma lancheira com seu personagem predileto para levar o lanchinho na festa de aniversário, por exemplo. Isso vai transformar sua “marmitinha” em um diferencial e, provavelmente, a criança nem irá se atentar às comidinhas proibidas (para ela) da festa. 

De olho no prato
A nutricionista Gabriela Kapim, que apresenta o programa “Socorro! Meu filho come mal”, pelo GNT, reforça que este processo não pode ser traumático. “Quanto mais tranquilo, mais eficiente e consistente serão os resultados. Traumático é uma criança se tornar diabética por descontrole e descuido”, afirma. Para ela, é essencial que o filho se sinta seguro e acolhido durante essa fase de adaptação.
A nutricionista Roseli Ueno Ninomiya ressalta que, muitas vezes, os pais sofrem ao descobrirem a doença, gerando insegurança ao pequeno que, consequentemente, poderá rejeitar a dieta preestabelecida.
“Criança bem orientada e segura do tratamento desenvolve responsabilidade, aprende a lidar com naturalidade, buscando os alimentos certos para o seu caso. Por isso, a participação de todos é bem-vinda, pois ajuda a fortalecer a autoestima, trazendo segurança e tranquilidade na escolha alimentar”, enfatiza.
Para atingir essa meta, lembre-se dessas dicas:
  • Não tenha em casa alimentos que seu filho não pode mais ingerir.
  • Busque “guloseimas” que se encaixam na nova dieta, ou seja, não é preciso riscar tudo do cardápio, apenas atentar-se às novas escolhas.
  • Leve a criança para fazer compras e, juntos, procurem ingredientes novos. Transforme isso em diversão!
  • Prepare em casa novas receitas adequadas à restrição alimentar do filhote, e convide-o para ajudar neste preparo. 
  • Jogue limpo sempre! Se a criança compreender desde o início os desconfortos e complicações que determinado alimento pode lhe causar, naturalmente o interesse irá diminuir.

(Fotos: Arquivo pessoal)

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