sexta-feira, 28 de outubro de 2016

"A Garota no Trem" deve agradar fãs do livro, mas pode confundir iniciantes

Se você leu o livro "A Garota no Trem" e pretende assistir ao filme que estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (27), vá tranquilo. A adaptação do best-seller de Paula Hawkins sofreu sim algumas mudanças, mas nada que vá alterar o rumo da história de suspense que envolve três mulheres: Rachel, Megan e Anna.
Rachel, a protagonista que viaja todos os dias no trem da cidadezinha de Witney para o centro de Londres só se mudou de país. O filme se passa em Nova York, nos Estados Unidos, mas ela ainda observa a sua antiga casa e a casa vizinha no subúrbio quando o trem para no sinal a caminho da Grand Central Station.
A bebida que mantém a situação de alcoólatra de Rachel desde que o início da crise em seu casamento com Tom (Justin Theroux), passa de gim tônica em lata para vodca disfarçada em uma garrafinha plástica de água.
Ela também aprecia martínis enquanto espera as horas passarem em Nova York na tentativa de enganar a amiga (Laura Prepon, a Alex de "Orange Is The New Black") com quem divide um apartamento desde a separação e que não sabe que ela perdeu o emprego em relações públicas há alguns meses.
Quem já conhece a história do início ao fim, no entanto, sabe que essas mudanças que até parecem significativas são apenas detalhes e pano de fundo para um suspense mais complexo do que um local ou uma bebida específica.
Mesmo com a mudança de país na história adaptada, Emily Blunt resolveu manter seu sotaque britânico para o papel de Rachel. A atriz nascida em Londres - que já viveu desde a assistente de Miranda Priestly em "O Diabo Veste Prada" (2006) até uma policial que tem de enfrentar os cartéis mexicanos no mais recente "Sicario" (2015) - dá vida para a conturbada protagonista que chega a duvidar de si mesma.
Aos poucos, tanto os leitores do best-seller de Paula Hawkins quanto os iniciantes que acompanham a história de "A Garota no Trem" pela primeira vez no cinema percebem que a história é muito mais sobre as cobranças e temores enfrentados pelas mulheres do que apenas sobre um desaparecimento.
A desaparecida, no caso, é Megan, vivida pela jovem atriz Haley Bennett ("Sete Homens e um Destino", "Marley & Eu"). Apesar de todo o mistério se focar em seu desaparecimento, Megan é uma personagem que não some nem no livro e muito menos no cinema.
Com apenas 1 hora e 52 minutos de filme para resumir as 375 páginas do livro, a história da desaparecida Megan Hipwell é bem explorada nos dois formatos. Há também a relação com o marido, Scott (Luke Evans), e o psiquiatra Kamal Abdic (Edgar Ramirez).
E finalmente temos Anna, a corretora de imóveis que conquistou o marido de Rachel enquanto os dois ainda estavam juntos e que em cerca de dois anos construiu uma família com ele. Tom e Anna são pais da pequena Evie, o bebê que Rachel tanto desejou e não conseguiu ter ao lado de Tom. Este é o motivo para o início dela no alcoolismo.
Divulgação
Rachel, Megan e Anna: personagens centrais do suspense "A Garota no Trem"
Todos esses fatos que parecem meros detalhes são o que realmente importa para o desfecho da história. Eles surgem apenas uma vez na trama adaptada para as telas. E o espectador tem de estar atento para captá-los.
A relação de Anna com Megan - que trabalhou como babá de Evie - também é resumida em apenas um take. Não fica claro o motivo que a levou a virar babá da vizinha. 
A falta de linearidade pode causar confusão e fazer algumas pessoas se perderem na trama que envolve vários personagens. Mas neste ponto, o filme só mantém o formato do livro, que mistura uma espécie de diários das mulheres.
As viagens no trem de Rachel são bem mais curtas, o grande segredo do passado de Megan é revelado sem muitos detalhes e bem antes do que no livro e Anna nem parece odiar tanto assim as constantes ligações de Rachel para o seu atual marido.
Para não comer bola, a roteirista Erin Cressida Wilson acrescentou dois itens que não estão na história original: uma personagem, Martha (Lisa Kudrow, a Phoebe de "Friends"), e uma cena impactante.
O take que mostra Rachel perdendo o controle (e filmando tudo com o celular) no banheiro da Grand Central Station resume os inúmeros conflitos internos pelos quais passa a personagem principal depois de diversos lapsos de memória. A situação acaba reforçada após um deles acontecer no dia do desaparecimento do Megan. A nova personagem, Martha, ajuda Rachel a esclarecer as falhas.
Com um desfecho pesado e que envolve o assassinato de um dos personagens principais, a trama deve agradar aos leitores, que poderão materializar os rostos e atitudes de Rachel, Megan, Scott, Tom, Anna e Kamal, e também aos novatos pela surpresa.
A cena final desfaz a confusão com os inúmeros personagens e leva ao clímax, mudando o sentido da história. Resta saber se as bilheterias vão repetir o sucesso da publicação de Paula Hawkins, que já vendeu mais de 10 milhões de cópias em 40 países.
"A Garota no Trem" estreou como líder nos Estados Unidos com arrecadação de US$ 24,7 milhões. Aqui no Brasil, o suspense dirigido por Tate Taylor ("Histórias Cruzadas" e "Inverno da Alma") compete diretamente com a animação "Trolls", que também estreou nesta quinta (27). Ambos são produzidos pela DreamWorks. 

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