sexta-feira, 23 de setembro de 2016

HISTÓRIAS DO MARC SOUZA - ESTRANHA FELICIDADE


ESTRANHA FELICIDADE



            Não se falavam. Não trocavam uma palavra sequer. Um bom dia. Uma boa tarde ou, uma boa noite.
            Apesar de terem dez anos de casamento eles simplesmente não se falavam. Não diziam uma só palavra entre si.
            Nada!
            Mas, não precisavam, afinal, se conheciam muito bem. Um olhar, um simples gesto discreto ou qualquer movimento feito por um, significava algo para o outro. O fato de não se comunicarem verbalmente, era de suma importância para a estabilidade matrimonial. Eles não se suportavam de boca aberta. A personalidade forte de ambos fazia com que bastassem cinco minutos de conversa, para iniciar uma discussão, e se encontrarem em pé de guerra.
            Mas, eles se amavam. Se amavam muito, e, como não conseguiam manter um relacionamento baseado no diálogo, resolveram cortar qualquer contato verbal entre si. Nem sobre as mais improváveis coisas ou acontecimentos. Portanto, decidiram que o silêncio, em suas vidas em comum, seria imperativo.
            E assim foram vivendo. E por mais estranho que pareça; eles eram muito felizes.
            Sempre juntos. Viviam trocando carícias, olhares e beijos apaixonados.
            Com uma vida social bastante agitada, iam sempre ao cinema, teatro, barzinhos. Com a turma, não faltavam a uma festa sequer.
            Todos os dias jantavam juntos ela sabia muito bem os gostos do marido e se esforçava em agradá-lo. Ele não era diferente, também a conhecia muito bem e sempre a surpreendia com presentes, flores e outras coisas inusitadas que deixavam o casal cada dia mais feliz e apaixonado.
            Após o jantar, assistiam a TV, e depois, iam para o quarto onde se amavam loucamente.
            Apaixonados iam vivendo a sua estranha relação. Se tinham razão em viver assim, isso não importava, o que importava era a felicidade. E eles, não havia dúvida, eles eram muito felizes.
            Mas um dia, no jantar, algo inesperado aconteceu.
            - Querido – disse ela – como foi o seu dia?
            “Será que estamos preparados para voltarmos a conversar?” – pensou ele que apesar de ter sido surpreendido por tal pergunta, respondeu naturalmente.
            - Foi muito bom! E o seu?
            E assim eles voltaram a conversar. E como conversaram. Conversaram tanto que, no dia seguinte, nenhum dos dois foi trabalhar. Tiraram o dia para o casal.
            Os dias foram passando e eles conversavam entusiasmadamente. De repente se transformaram em um casal normal. Conversavam sobre tudo, principalmente sobre suas vidas, de como eram felizes juntos, e de como se amavam.
            Mas...
            Mas... como nem tudo são flores, passado alguns dias veio a primeira discussão. Depois, outra. E outra. Logo já estavam novamente em pé de guerra.
            Ela ameaçou ir embora abandoná-lo. Depois, foi ele quem ameaçou.
            A separação era iminente.
            Então, para evitar o pior, resolveram que tudo voltaria ao normal. Que tudo voltaria a ser como antes. Neste dia, jantaram em silêncio. Assistiram a TV em silêncio. Ao se deitarem, olharam-se com muito amor e tocando-a com carinho ele disse:
            - Eu te amo!
            - Eu também te amo – respondeu ela.
            E se beijaram com nunca. E se amaram como nunca.
            E foram felizes.

Felizes para sempre!

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