QUEM MUITO ESCOLHE...
Nem
ela sabia qual seria o numero exato dos noivados que desmanchara nos últimos
anos. Só tinha certeza de uma coisa; mais uma vez estava só. Mais uma vez
terminara um namoro, ou melhor, um noivado às vésperas de marcar o casamento.
O
pior era que o tempo estava passando. Já tinha quase quarenta anos, e, para
falar a verdade, já tinha ficado para titia. Suas amigas já estavam todas
casadas. Suas irmãs, mais jovens, também. Era a tia da turma. A única solteira.
Para piorar a situação, ela deu-se conta
de que sua melhor amiga, solteira, tinha, apenas, vinte anos.
Estava
triste. Deprimida. Desesperada.
E,
definitivamente, encalhada!
Encalhada!
Só
não sabia por que.
Era
bonita. Estudada (graduada em dois cursos superiores). Tinha um bom emprego,
com um salário melhor ainda. Era inteligente. Bem resolvida (não tão bem
resolvida assim, né?). Ela, não era um bom partido, era um ótimo partido, no
entanto seus relacionamentos não vingavam nunca. Sempre acontecia algo para
atrapalhar.
“Ou
seu namorado era frio demais”.
“Quente
demais (ele só pensava naquilo, dizia, assim não dá)”
“Não
era carinhoso”.
“Era
muito pegajoso”.
“Trabalhava
muito”.
“Ou,
não trabalhava”.
“Torcia
por um outro time”.
“Ou,
além de não gostar de futebol, era sensível demais”.
“Ríspido
demais”.
“PERFEITO
demais”.
Sempre
havia algo para atrapalhar a sua vida a dois.
Ela
simplesmente não sabia mais o que fazer.
O
pior era que, ao terminar esta ultima relação, seu ex-namorado lhe dissera algo
que não saia de sua cabeça. E isso era o que mais lhe incomodava. Isso era o que
mais lhe angustiava.
Apesar
de todas as angustias e incertezas quanto a sua vida a dois (chegou a pensar em
ir para um convento). Ela não conseguia esquecer o ele lhe dissera. Não
conseguia se desvencilhar de suas palavras. Por mais que se esforçasse ela não
conseguia. A cada minuto, cada segundo, tais palavras viam lhe assombrar.
Insistentemente. Incansavelmente.
Aquilo
lhe marcou demais, talvez, para sempre. Mesmo com os olhos abertos aquela
fatídica cena vinha à sua mente, com todos os detalhes. Não conseguia esquecer,
quando, seu namorado (ou melhor, ex-namorado), logo após ela terminar o
noivado, olhou em seus olhos e disse friamente:
-
Cuidado! Pois, quem muito escolhe, acaba sendo prêmio de rifa. – e, antes que
ela dissesse algo, ele completou. – E rifa de pobre. De pobre. Não se esqueça
disso.
E
não é que ela não conseguia esquecer disso, mesmo.
MARC SOUZA
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